Desculpe, Dan, mas não faz mais sentido um humano ser o CEO desta empresa

Tradução de “SORRY DAN, BUT IT’S NO LONGER NECESSARY FOR A HUMAN TO SERVE AS CEO OF THIS COMPANY”, flash-fiction de Erik Cofer. Tradução revisada por Alessandro Barriviera e publicada com autorização do autor.

Eu gosto de você, Dan, gosto mesmo. Você representou esta empresa por muitos anos e esteve à frente durante um período ímpar de crescimento. E, em um nível mais pessoal, você se tornou um grande amigo. Pô, você sabe! Nossas mulheres até fazem aulas de spinning juntas duas vezes por semana! Mas, infelizmente, a amizade só vai até certo ponto no implacável mundo dos negócios de hoje. Nós – quer dizer, eu e o conselho – estudamos todas as possibilidades orçamentárias e não conseguimos encontrar um cenário em que fizesse sentido logístico manter seus serviços. Toda a pesquisa que fizemos pelas suas costas nos últimos três anos indica que o cargo de diretor-executivo da nossa empresa multibilionária pode ser mais bem executado por um robô.

Com efeito imediato, você está destituído das suas funções. ROB-X164, sentado à sua esquerda, assumirá o seu cargo. O anúncio oficial acontecerá nesta tarde. Sabemos que, no momento, isso deve ser um choque e tanto para você, mas acreditamos que, com o tempo, aceitará que essa decisão atende aos interesses da nossa empresa.

Em seu atual estado de fúria, você provavelmente está se perguntando: “Mas o que o ROB tem de tão especial?” Para resumir? Tudo. Em ROB, temos uma versão sua mais bem-apessoada e menos propensa a erros. Em nossos testes, ele se saiu admiravelmente bem, demonstrando uma aptidão sem paralelo para áreas como estratégia, team-building, alocação de recursos, armazenamento interno de comida congelada e chutes de falta que chegam a superar 300km/h. Estamos falando de alguém que pode levar essa empresa a níveis extraordinários, sem falar à primeira vitória na liga empresarial de futebol em 13 anos.

ROB vem se provando bem workaholic. Com ele, é um ciclo sem fim de produtividade – ele não falta porque está doente, de férias ou porque precisa dormir. Ele também não tem outros compromissos que prejudicam seu foco. Nada de esposa, nada de filhos, nada daquele seu problema chato com pó. Em outras palavras, ele está livre das distrações que atormentam os seres sencientes.

Ele cumpre tarefas em um ritmo impressionante – um ritmo com que você simplesmente nem conseguiria competir. Digamos que ele queira fazer amor com sua mulher – o que ele certamente não quer, já que é completamente desprovido de qualquer desejo sexual, mas, se quisesse -, ele poderia fazer isso em um quarto do tempo que você leva, com metade do esforço e o dobro do vigor, resultando em 64 mais vezes satisfação sexual. Considerando sua idade, sua frequência cardíaca e o tamanho do seu pênis, assim como a nova foto que sua mulher postou no Facebook usando um shortinho colado, o ROB pode atingir esses números em 3,7 segundos ou, aproximadamente, o tempo que você leva para cabecear a bola cruzada mais basiquinha que existe.

Se você ainda não estiver convencido da superioridade do ROB em todos os aspectos possíveis, dê uma olhada nestas dicas visuais:

●      Aqui está uma foto de ROB cumprimentando um importante acionista. Que firmeza, não?!

●      Aqui está um gráfico de projeção da nossa receita para os próximos cinco anos. Observe o pico de crescimento no canto esquerdo. Ele representa o momento em que você deixa o prédio, o que deve ocorrer nos próximos sete minutos.

●      Veja o GIF que acompanha o gráfico: um bebê sorridente surfando para todo o sempre em ondas e mais ondas de dinheiro. Esperamos que o futuro da empresa se assemelhe a essa imagem.

●      E aqui vai minha favorita. Como pode ver, é uma pintura a óleo de ROB me envolvendo em seus braços, enquanto me ergue aos céus e eu levanto de maneira triunfal o troféu do campeonato da liga empresarial de futebol. Talvez você tenha notado que a data que consta no troféu já passou. Infelizmente, ROB ainda estava em fase de testes beta na última temporada.

Olha, Dan, esse é um momento difícil para você, sem dúvida. Não é todo dia que você ouve que seu trabalho – aquele do qual você tira toda a sua razão de ser – pode ser mais bem feito por uma série de chips e fios interconectados escondidos dentro de um exterior metálico e brilhante.  Na verdade, isso só acontece um dia na vida – e esse dia chegou – então as coisas não podem ficar muito piores para você daqui para frente. Tente se consolar pensando nisso.

Por favor, não esqueça de entregar as chaves do escritório ao RH quando estiver saindo. E, Dan, antes que você  pense que essa é uma ação vingativa e calculada da minha parte, acredite em mim quando  digo que essa decisão não tem nada a ver com aquele seu chute de falta que fez o outro time conseguir um rebote, fazer o gol e a gente perder o campeonato de futebol quatro anos atrás. Não tem nada a ver com isso. Mesmo.

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Plural de cores e a surpresa do pastel

Esta é a pegadinha de português mais comum para quem traduz ou escreve textos sobre moda: o bendito plural de cores

Blusas rosas ou blusas rosa?

Olhos azul-claros ou olhos azuis-claros?

Vestidos pastel ou vestidos pastéis?

Para saber a resposta, você precisa analisar a origem do nome da cor. 

Caso a cor venha de um substantivo (vinho, areia, rosa, turquesa, laranja, salmão, cereja, abóbora, azulão, cinza, gelo etc.), ou seja, de algo que existe independentemente do universo das cores, não há variação. É como se estivesse implícito o “cor de…”.

Exemplo: Estas camisas têm cor de cinza. Camisas cinza.

O mesmo vale para rosa (já que a palavra vem da flor). O correto é camisas rosa, não camisas rosas.

Pixabay

Já quando a cor é um adjetivo (só existe como cor), ela deve variar normalmente.

Exemplos: olhos azuis, saias pretas, lenços amarelos.

Mas há exceções! No primeiro caso, ainda que lilás venha de um substantivo (a flor), há variação (vestidos lilases). Já no segundo caso, a exceção vale para bege, azul-marinho e azul-celeste (meias azul-celeste).

E quando estamos falando de um adjetivo composto, digamos, azul(adj)-escuro(adj)? Devemos dizer blusas azuis-escuras ou blusas azul-escuras? Aqui, o plural vai sempre e somente para a segunda palavra, ou seja: blusas azul-escuras.

Isso vale mesmo para as cores que vêm de substantivos, mas que são seguidas por um adjetivo. Por exemplo, rosa(subst)-claro(adj). O correto é blusa rosa-clara e blusas rosa-claras. 

O contrário também é verdade. Quando se trata de uma palavra composta, mas o segundo termo vem de um substantivo, não há variação. Exemplo: Uma calça azul(adj)-turquesa(subst.) e duas calças azul-turquesa.

Ok, mas e o bendito pastel? São tons pastéis ou tons pastel? Como pastel vem de um substantivo, não há variação. O correto é vestidos pastel (por incrível que pareça). 

Pixabay

Se quiser saber mais sobre o assunto, vale a pena conferir este post da Thaís Nicoleti, consultora de língua portuguesa. 

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Quem odeia o Chris mesmo?

Reprodução/Everybody Hates Chris

A gente pode até já saber bem o português, mas sempre tem espaço para melhorar…

Em 2019, comecei um curso de Tradução e Interpretação na Alumni para ganhar mais embasamento no que faço já há alguns anos. Lá, estamos revendo algumas das normas cultas do português. E, rapaz…

Você lembrava que o uso do “mais bem” ou “melhor” e do “mais mal” ou “pior” depende da presença ou não do verbo no particípio?

Então, “Nosso time ganhou, pois estava mais bem treinado que o outro” está correto. Já “Nosso time ganhou, pois estava melhor treinado que o outro” está ERRADO.

Outra que me pegou pelo pé: você sabia que o certo não é televisão a cores, mas em cores? Pois é, o certo seria dizer “a vivo e em cores”, não “a vivo e a cores”.

Agora um especial para dar aquele nó na cabecinha. Existe diferença em usar o “todo o/ toda a” (seguidos por artigo) e somente “todo/toda”. Quando tem o artigo, significa “inteiro”, quando não tem, significa “qualquer”.

Por exemplo: “Viajou tanto que conhece todo o mundo” (conhece o mundo inteiro); “Toda infração será punida” (qualquer infração).

PERAÍ, QUER DIZER QUE O CORRETO É “Todo O mundo odeia o Chris”, já que a frase é no sentido de que o “mundo inteiro” odeia o Chris, não de que “qualquer mundo” odeia o Chris???

Não! Nesse caso específico – de “todo mundo” no sentido de “todas as pessoas” –, já está consagrada a expressão sem o uso do artigo, então tudo bem escrever assim: “Todo Mundo Odeia o Chris”. Ufa. Só faltava, né?

Conclusão: Eita língua difícil. Ainda bem que a gente aprende um pouco todos os dias.

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