Tradução do poema “The Dance”, de William Carlos Williams

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema “The Dance”, de William Carlos Williams. Tradução por Luísa Pessoa.

A DANÇA

Na grande obra de Breughel, A Quermesse,

os dançarinos bailam, bailam e se

balançam, o estrondo e o fragor e o

ronco dos foles, corneta e rabecas

apoiados nas panças (roliças como as 

canecas em que bebem as rodadas)

suas bundas e barrigas bambeando

para revirá-las. Chutando e rodando 

na Área Comum, revirando traseiros, 

só coxas robustas suportam o peso 

de tão roliços arranjos, trotando alegres,

na grande obra de Breughel, A Quermesse.

THE DANCE

In Breughel’s great picture, The Kermess,

the dancers go round, they go round and

around, the squeal and the blare and the

tweedle of bagpipes, a bugle and fiddles

tipping their bellies (round as the thick-

sided glasses whose wash they impound)

their hips and their bellies off balance

to turn them. Kicking and rolling about

the Fair Grounds, swinging their butts, those

shanks must be sound to bear up under such

rollicking measures, prance as they dance

in Breughel’s great picture, The Kermess.

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Tradução do poema “Young Woman at a Window”, de William Carlos Williams

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema “Young Woman at a Window”, de William Carlos Williams. Tradução por Luísa Pessoa.

A JOVEM NA JANELA

Sentada com
lágrimas

no rosto
o rosto

apoiado 
em sua mão

o narizinho
do menino

em seu colo
contra o vidro

YOUNG WOMAN AT A WINDOW

She sits with
tears on

her cheek
her cheek on

her hand
the child

in her lap
his nose

pressed
to the glass

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Tradução do poema “Acquainted with the Night”, de Robert Frost

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema “Acquainted with the Night”, de Robert Frost. Tradução por Luísa Pessoa.

MINHA VELHA CONHECIDA, A NOITE

A noite é minha velha conhecida.
Eu já fui e voltei em meio à chuva,
Além das luzes da última avenida.

Já vi nos becos a tristeza nua.
Ao cruzar com o guarda noturno,
Baixei os olhos e evitei perguntas.

Suspendi meus passos, taciturno,
Quando uma voz interrompida
Soou ao longe, sem em seu turno

Oferecer-me adeus ou companhia.
E mais além no céu, longínqua,
A lua qual relógio reluzia

Sem ver no tempo bondade ou vilania.
A noite é minha velha conhecida.

ACQUAINTED WITH THE NIGHT

I have been one acquainted with the night.
I have walked out in rain—and back in rain.
I have outwalked the furthest city light.

I have looked down the saddest city lane.
I have passed by the watchman on his beat
And dropped my eyes, unwilling to explain.

I have stood still and stopped the sound of feet
When far away an interrupted cry
Came over houses from another street,

But not to call me back or say good-bye;
And further still at an unearthly height,
One luminary clock against the sky

Proclaimed the time was neither wrong nor right. 
I have been one acquainted with the night.

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Tradução do poema “I’ve seen a Dying Eye”, de Emily Dickinson

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema “I’ve seen a Dying Eye”, de Emily Dickinson. Tradução por Luísa Pessoa.

O OLHO AGONIZANTE

Já vi um Olho Agonizante
Rodar e rodar um Quarto—
À procura de Algo — parecia —
Então se Turvar—
E então—tomado por Névoa—
E então—chumbar-se ao chão
Sem revelar que imagem
Abençoou-lhe a passagem—

I’VE SEEN A DYING EYE

I’ve seen a Dying Eye
Run round and round a Room—
In search of Something—as it seemed—
Then Cloudier become—
And then—obscure with Fog—
And then—be soldered down
Without disclosing what it be
’Twere blessed to have seen—

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Tradução do poema “Counting”, de Philip Larkin

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema Counting”, de Philip Larkin. Tradução por Luísa Pessoa.

CONTAGEM

Pensar o um sozinho
Que fácil caminho!
Um quarto, uma cadeira, uma alcova,
Uma só pessoa,
Faz total sentido; um punhado
De desejos pode ser realizado,
Um caixão ocupado.

Mas contar até dois
Complica o depois;
O um deve ser negado
Antes de ser testado.

COUNTING

Thinking in terms of one
Is easily done—
One room, one bed, one chair,
One person there,
Makes perfect sense; one set
Of wishes can be met,
One coffin filled.

But counting up to two
Is harder to do;
For one must be denied
Before it’s tried.

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Tradução do poema “Thursday”, de Edna St. Vincent Millay

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema  “Thursday“, de Edna St. Vincent Millay. Tradução por Luísa Pessoa.

QUINTA

Se te amei na quarta,
   Isso é problema meu.
Não te amo na quinta —
Nosso caso morreu.

Já você vir reclamar,
   Porque isso te doeu,
Tá bom que te amei na quarta  — mas
   Isso é problema seu.

THURSDAY 

And if I loved you Wednesday, 
   Well, what is that to you?
I do not love you Thursday —
   So much is true. 

And why you come complaining 
Is more than I can see.
I loved you Wednesday,— yes — but what
   Is that to me?

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Tradução do poema “New World”, de Louise Gluck

Tradução do inglês para o português (Brasil) do poema “New World”, de Louise Gluck

Novo mundo – Louise Gluck

No meu entender,

por toda a vida de minha mãe, meu pai

a conteve, como 

corda amarrada aos tornozelos

Ela era

aérea por natureza

Queria viajar,

ir ao teatro, a museus

O que ele queria

Era deitar no sofá

com o jornal

sobre o rosto

Para que a morte, quando viesse,

não fosse de grande mudança

Em casais assim,

quando o combinado

é fazer tudo junto,

o mais ativo sempre

cede e concede.

Não dá para ir ao museu

com alguém que não quer

enxergar

Pensei que a morte de meu pai

libertaria minha mãe.

De certa forma, sim.

Ela viaja, aprecia

obras-primas. Mas flutua

como um balão de criança

que se perde no minuto

que não está preso.

Ou como um astronauta

que de alguma forma se perdeu da nave

e vaga pelo espaço

sabendo, por todo o tempo que lhe resta,

que é isso que sobrou da vida: ela está livre

neste sentido.

Descolada da terra.

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Tradução de “Negro Drama”, Racionais MC’s

Tradução para o inglês de trecho da música “Negro Drama”, dos Racionais MC’s, em versão cantada por Seu Jorge. A tradução legendou a versão internacional do vídeo de divulgação do manifesto “Enquanto Houver Racismo, Não Haverá Democracia”, da Coalização Negra por Direitos. Vídeo de João Wainer. Tradução de Luísa Pessoa.

NEGRO DRAMA from TX on Vimeo.

Black drama! He tries, but can’t see a thing

but a star, far away, half shining

He feels the drama, the pressure, the expense

in love, in hate, the insane revenge

Black drama! I know who’s plotting and who’s my friend

The trauma I carry so I won’t be another fucked black man

The drama from jails and slums

Blood, siren, cries, candles, tombs

Passengers from Brazil, São Paulo, the agony

of those who survive the orders and cowardice

Outskirts, alleys, railroad flats

Bet you’re thinking: I have nothing to do with that

Since the beginning, in search of gold and silver,

Watch who dies and then how the killer

gets the merit and the uniform that harms

Seeing the poor in jail or dead became cultural

Stories, records, documents

This is no tale, fable, myth or legend

We’ve always heard: blacks won’t have their turn

So, look at that castle, brother, you’ve built it, scum

My friends from the battle are my comrades

I was flesh, now I’m the fucking blade

Cheers, a toast to me

I’m an example of glories, pathways and victories,

Money takes the man out of misery

But can’t erase the slum inside him

Few are those who enter the field to win

The soul keeps what the mind tries to forget

I look back and see the long path I’ve walked,

and who was by my side, and who kept out of sight

Stylish black drama

To be, you have to be, no fear

Between the trigger and the storm

Always proving I’m a man, not a scorn

May God protect me, I know he’s not impartial

He watches the rich, but loves the ghetto

I wear black, inside and outside

Warrior, poet, between memory and time

On this path, I see euros, karats and bills

And I say: Bro, don’t die, but don’t kill

The clock doesn’t wait, see how it goes

This path is full of mortars, it’s poisonous

Nightmare is a compliment

For those who live at war, peace never came

My people have cold sweats even when it’s hot

I saw a black kid, his notebook was a glock

Black drama

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Breve tradução sobre o exercício tradutório

Trecho de “THE YEARS”, livro de Virginia Woolf. A tradução foi um exercício das aulas de Tradução Literária de Alessandro Barriviera.

Um pequeno vinco pronunciou-se entre suas sobrancelhas. A testa franzia conforme a leitura. Ele lia, fazia uma anotação, relia. Estava imune a todos os sons. Nada via além do grego à frente. Mas, conforme lia, seu cérebro aos poucos se atiçava. Percebeu algo despertando e se encaixando na mente. Conseguia apreender frase após frase de maneira exata, firme, ainda mais exata do que na noite anterior, percebia, fazendo uma pequena anotação na margem. Palavrinhas antes insignificantes agora exibiam variações de sentido, que alteravam o sentido. Fez outra anotação, aquele era o sentido. A própria destreza em decifrar a frase completa e imediatamente lhe proporcionou uma onda de animação. Ali estava, limpa e completa. Mas é preciso ser certeiro, exato. Mesmo esses garranchos precisam ser claros como a luz. Consultou um livro, depois outro. Então recostou-se para ver com os olhos fechados. Nada deve resvalar para o nebuloso. Os relógios começaram a bater as horas. Ele ouviu. As badaladas continuaram. As rugas que haviam marcado seu rosto desanuviaram. Ele se recostou, os músculos relaxaram. Olhou por cima  dos livros, para a penumbra. Sentiu como se tivesse se jogado na grama após uma corrida. Mas, por um momento, parecia que ainda estava correndo. Sua mente continuava sem o livro. Ela viajou desimpedida por um mundo de puro sentido, mas que gradualmente perdia o sentido. Os livros se projetavam da parede: ele via os revestimentos de cor creme, um ramo de papoulas num vaso azul. A última badalada soou. Ele suspirou e se levantou da mesa.

Original:

A little dint sharpened between his brows. He frowned as he read. He read; and made a note; then he read again. All sounds were blotted out. He saw nothing but the Greek in front of him. But as he read, his brain gradually warmed; he was conscious of something quickening and tightening in his forehead. He caught phrase after phrase exactly, firmly, more exactly, he noted, making a brief note in the margin, than the night before. Little negligible words now revealed shades of meaning, which altered the meaning. He made another note; that was the meaning. His own dexterity in catching the phrase plumb in the middle gave him a thrill of excitement. There it was, clean and entire. But he must be precise; exact; even his little scribbled notes must be clear as print. He turned to this book; then that book. Then he leant back to see, with his eyes shut. He must let nothing dwindle off into vagueness. The clocks began striking. He listened. The clocks went on striking. The lines that had graved themselves on his face slackened; he leant back; his muscles relaxed; he looked up from his books into the dimness. He felt as if he had thrown himself down on the turf after running a race. But for a moment it seemed to him that he was still running; his mind went on without the book. It traveled by itself without impediments through a world of pure meaning; but gradually it lost its meaning. The books stood out on the wall: he saw the cream-colored panels; a bunch of poppies in a blue vase. The last of the strokes had sounded. He gave a sigh and rose from the table.

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Desculpe, Dan, mas não faz mais sentido um humano ser o CEO desta empresa

Tradução de “SORRY DAN, BUT IT’S NO LONGER NECESSARY FOR A HUMAN TO SERVE AS CEO OF THIS COMPANY”, flash-fiction de Erik Cofer. Tradução revisada por Alessandro Barriviera e publicada com autorização do autor.

Eu gosto de você, Dan, gosto mesmo. Você representou esta empresa por muitos anos e esteve à frente durante um período ímpar de crescimento. E, em um nível mais pessoal, você se tornou um grande amigo. Pô, você sabe! Nossas mulheres até fazem aulas de spinning juntas duas vezes por semana! Mas, infelizmente, a amizade só vai até certo ponto no implacável mundo dos negócios de hoje. Nós – quer dizer, eu e o conselho – estudamos todas as possibilidades orçamentárias e não conseguimos encontrar um cenário em que fizesse sentido logístico manter seus serviços. Toda a pesquisa que fizemos pelas suas costas nos últimos três anos indica que o cargo de diretor-executivo da nossa empresa multibilionária pode ser mais bem executado por um robô.

Com efeito imediato, você está destituído das suas funções. ROB-X164, sentado à sua esquerda, assumirá o seu cargo. O anúncio oficial acontecerá nesta tarde. Sabemos que, no momento, isso deve ser um choque e tanto para você, mas acreditamos que, com o tempo, aceitará que essa decisão atende aos interesses da nossa empresa.

Em seu atual estado de fúria, você provavelmente está se perguntando: “Mas o que o ROB tem de tão especial?” Para resumir? Tudo. Em ROB, temos uma versão sua mais bem-apessoada e menos propensa a erros. Em nossos testes, ele se saiu admiravelmente bem, demonstrando uma aptidão sem paralelo para áreas como estratégia, team-building, alocação de recursos, armazenamento interno de comida congelada e chutes de falta que chegam a superar 300km/h. Estamos falando de alguém que pode levar essa empresa a níveis extraordinários, sem falar à primeira vitória na liga empresarial de futebol em 13 anos.

ROB vem se provando bem workaholic. Com ele, é um ciclo sem fim de produtividade – ele não falta porque está doente, de férias ou porque precisa dormir. Ele também não tem outros compromissos que prejudicam seu foco. Nada de esposa, nada de filhos, nada daquele seu problema chato com pó. Em outras palavras, ele está livre das distrações que atormentam os seres sencientes.

Ele cumpre tarefas em um ritmo impressionante – um ritmo com que você simplesmente nem conseguiria competir. Digamos que ele queira fazer amor com sua mulher – o que ele certamente não quer, já que é completamente desprovido de qualquer desejo sexual, mas, se quisesse -, ele poderia fazer isso em um quarto do tempo que você leva, com metade do esforço e o dobro do vigor, resultando em 64 mais vezes satisfação sexual. Considerando sua idade, sua frequência cardíaca e o tamanho do seu pênis, assim como a nova foto que sua mulher postou no Facebook usando um shortinho colado, o ROB pode atingir esses números em 3,7 segundos ou, aproximadamente, o tempo que você leva para cabecear a bola cruzada mais basiquinha que existe.

Se você ainda não estiver convencido da superioridade do ROB em todos os aspectos possíveis, dê uma olhada nestas dicas visuais:

●      Aqui está uma foto de ROB cumprimentando um importante acionista. Que firmeza, não?!

●      Aqui está um gráfico de projeção da nossa receita para os próximos cinco anos. Observe o pico de crescimento no canto esquerdo. Ele representa o momento em que você deixa o prédio, o que deve ocorrer nos próximos sete minutos.

●      Veja o GIF que acompanha o gráfico: um bebê sorridente surfando para todo o sempre em ondas e mais ondas de dinheiro. Esperamos que o futuro da empresa se assemelhe a essa imagem.

●      E aqui vai minha favorita. Como pode ver, é uma pintura a óleo de ROB me envolvendo em seus braços, enquanto me ergue aos céus e eu levanto de maneira triunfal o troféu do campeonato da liga empresarial de futebol. Talvez você tenha notado que a data que consta no troféu já passou. Infelizmente, ROB ainda estava em fase de testes beta na última temporada.

Olha, Dan, esse é um momento difícil para você, sem dúvida. Não é todo dia que você ouve que seu trabalho – aquele do qual você tira toda a sua razão de ser – pode ser mais bem feito por uma série de chips e fios interconectados escondidos dentro de um exterior metálico e brilhante.  Na verdade, isso só acontece um dia na vida – e esse dia chegou – então as coisas não podem ficar muito piores para você daqui para frente. Tente se consolar pensando nisso.

Por favor, não esqueça de entregar as chaves do escritório ao RH quando estiver saindo. E, Dan, antes que você  pense que essa é uma ação vingativa e calculada da minha parte, acredite em mim quando  digo que essa decisão não tem nada a ver com aquele seu chute de falta que fez o outro time conseguir um rebote, fazer o gol e a gente perder o campeonato de futebol quatro anos atrás. Não tem nada a ver com isso. Mesmo.

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